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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Jacques Kaleidoscópio

JACQUES KALEIDOSCÓPIO
Quem é das "antigas" vai saber do que eu estou falando. Quem não é, vai ficar sabendo. Jacques, o mais pirado de todos os DJ's do rádio brasileiro, ícone de uma geração de roqueiros que começou lá nos anos 70. Minhas experiências ouvindo seu programa foram muitas e inesquecíveis. Tenho certeza que pra muitos de vocês também. Abaixo reproduzo duas matérias retiradas de outros sites. Uma conta sua história e parte de uma entrevista e a outra a experiência pessoal de um roqueiro. Os créditos estão concedidos. No fim tem um link que leva você ao UOL, onde vai poder assistir alguns vídeos do Jacques já coroa fazendo algumas reflexões e tocando alguns sons. Abraços.

Jacques Kaleidoscópio (Jacques Gersgorin, nascido em 13/2/1949, Rio de Janeiro, RJ) Radialista, produtor. Foi um dos primeiros DJs brasileiros dentro do espírito informal e descompromissado do rock. Pode-se dizer que, ao lado de Big Boy, Jacques foi o mais influente radialista brasileiro de rock e, enquanto Big Boy se notabilizou como DJ de pop-rock (embora fosse muito mais que isso), Jacques passou à História como o mais influente radialista brasileiro de rock alternativo e da chamada "era do LP", não se prendendo a paradas de sucesso e tocando álbuns inteiros. Jacques mudou-se para São Paulo em 1968, a convite de Silvio Santos ("vendendo idéias" para seções de seu programa radiofônico como "Boa Noite, Cinderela" ou "Quem sabe mais, o homem ou a mulher?", como ele recorda), trabalhando com ele e ajudando a divulgá-lo para fora do Estado de São Paulo. "Naquele tempo era mais fácil que hoje, consegui o endereço dele e fui procurá-lo". Jacques trabalhou com Silvio nas emissoras Tupi e Nacional até 1973,e tomou gosto por trabalhar em rádio ("Vi que não era difícil fazer rádio, que é um mistério para o ouvinte"); ver Silvio trabalhar foi um grande aprendizado ("acendia a luz vermelha e ele começava a falar de forma diferente ao diálogo"). Depois, Jacques residiu em Ouro Preto, MG, ligou-se em rock a partir da equipe da Tenda do Calvário e do festival de Iacanga; descoberto pelo pessoal da Tenda em Ouro Preto, voltou a São Paulo, SP, para trabalhar com eles; esses projetos acabaram e Jacques conseguiu continuar com o rock por meio do rádio, e começou a carreira na América AM em fins de 1974. "Eu era fominha de microfone, fazia de tudo, fui até 'locufúnebre', locutando anúncios de mortes." Em 1974 adotou o apelido Kaleidoscópio: "Saí do Festival da Palhoça em 1974, viajei para o Sul num carro sem rádio, sem som, então eu era meu próprio rádio". Num convento em São Leopoldo, RS, a refração do sol em alguns pinheiros trouxe á lembrança o caleidoscópio, espécie de telescópio com várias lentes e espelhos que permite ver imagens coloridas e sempre diferentes. E o programa Jacques Kaleidoscópio (com "k") estreou em fins de 1974, na América AM de São Paulo, a princípio com duração de uma hora, depois estendido para duas horas díárias. Tocava não só rock mas também MPB (inclusive, ao tocar Fafá de Belém foi chamado pelos mais radicais de "vendido"), mas encarou isso como algo positivo: "Vi que, mais que roqueiro, eu era radialista, vi minha pluralidade com o momento cultural, meu programa tinha uma psicóloga - falava sobre drogas, coisa tabu na época - e uma professora de inglês". O Kaleidoscópio foi ao ar também na Excelsior AM; a professora de inglês, apresentada como "Teacher", era Ana Maria Stingel, atualmente, ao que consta, trabalhando como psicóloga no Rio de Janeiro, RJ. Jacques trabalhou também na Antena 1 FM, em 1980 e 1981, apresentando programas como Contatos Imediatos e Número Mágico; seus assistentes informais incluem Amador Bueno (da banda Jazco, ativa dos anos 1970 até hoje) e o produtor fonográfico Peninha Schmidt. Nos anos 1980 e 1990 Jacques residiu no Estado de Goiás, em várias cidades, chegando a ter uma fábrica de cadernos e um talk-show, Jacques Sobre Tudo. Retornou a São Paulo em 2004. "O ambiente me jogava para fazer um programa de rádio, e o interesse hoje é muito mais de cultura geral que especificamente de rock." Em 2005-6 apresentou o programa Monte de Sinais na emissora de televisão virtual AllTV. E pretende voltar ao ar: "Se aparecer uma oportunidade onde prevaleça a liberdade de trabalho, por que não? Só quero voltar com um produtor, para náo ficar um 'revival' muito grande." http://www.celsobarbieri.co.uk/barbieri/espelho/jacques_kaleidoskopio/jacques_kaleidoskopio.htm
Claro & escuro; calor & frio; positivo & negativo; Yin & yang...no mundo das dualidades, os opostos convivem, às vezes não harmônicamente, mas convivem. Estávamos numa Era de desbunde pós-Flower Power que contrastava com a extrema repressão da ditadura de direita. Flores, cabelos compridos, cores e sons deviam incomodar os que queriam dominar pela força, coturno, aspereza e voz de comando. Era nesse contexto de realidades antagônicas que vivia-se o ano de 1975 no Brasil e uma inesperada luz apareceu de forma inusitada, dentro de uma estação de Rádio AM, controlada por padres católicos. Nas ondas da Rádio América AM de São Paulo, uma obscura estação perdida no dial das rádios paulistanas, foi que surgiu o programa "Kaleidoscópio", um verdadeiro oásis cultural, difundindo Rock, MPB, Teatro, Literatura, Cinema e qualquer manifestação artística coadunada com as forças aquarianas que estavam sendo duramente combalidas pelo cinza do baixo astral político, que o Brasil vivia à época. Seu apresentador era um cara chamado Jacques, que logo ficou conhecido pela alcunha de Jacques Kaleidoscópio. Extremamente carismático e antenado, o Jacques cativava o ouvinte freak, levando informação, entrevistas transadas, música da melhor qualidade e à medida que o programa foi ganhando audiência, criando quadros fixos e noites especiais dedicadas à um tema único. Quem não se lembra da "Teacher", uma garota de voz sensual que lia traduções de músicas ? Ainda me lembro de In My Time of Dying do Led Zeppelin e July Morning do Uriah Heep, nessas noitadas elucidativas... E quanto às históricas noites de sextas de lua cheia, onde aconteciam os especiais de Blues ? Na base do boca-a-boca, artistas foram divulgando e buscando a sua divulgação no programa. Passou a ser comum, atores que acabavam de encenar seus espetáculos nos teatros da cidade, correrem à Rádio América e fazerem a divulgação de suas peças. Músicos apareciam toda noite e o Jacques lançou muito material até de quem ainda não tinha um disco formalmente gravado. Foi lá que ouvi Maytrea e Silvelena (nosso amigo Zé Brasil e Silvia Helena, lideres do Apokalypsis), Bendegó, Papa Poluição,Tuca, Luli & Lucina... O Terço lançou o LP Casa Encantada e foi no Kaleidoscópio que ouvi o disco pela primeira vez. O mesmo com Revolver do Walter Franco e Snegs do Som Nosso de Cada Dia. Noites de Rock Progressivo inesquecíveis...a nata do prog italiano, o krautrock germânico... A MPB de máxima qualidade. Jacques tocava coisas do Chico, Gil e Caetano que as outras rádios não tocavam e um monte de novos artistas da safra da metade dos anos setenta, talentosos como Ednardo, Belchior, Fagner... A abertura era um choque térmico para o ouvinte incauto daquela estação. De-repente, após uma música qualquer, eis que surgia Massavilha do Som Nosso de Cada Dia, com seu solo de Moog hipnótico, pilotado pelo saudoso Manito, anunciando : Chegou o som altamente transado !Um dos grandes méritos do Jacques, era o tom de sua locução, quase que falando ao ouvinte como se fosse seu melhor amigo. Essa sensação de cumplicidade, fraternidade, tinha tudo a ver com o espírito hippie de compartilhamento, sem mesquinharias, sem distanciamentos. E era justamente nessa capacidade de transmitir essa energia que se coadunava com os ventos Woodstockianos que ainda sopravam pela terra tupiniquim, que cativava os ouvintes fazendo deles, companheiros de uma jornada. Quem ouvia o Kaleidoscópio pelas madrugadas geladas paulistanas, sentia-se irmanado, integrado numa mesma vibração e isso é uma sensação extremamente difícil de ser explicada para os jovens de hoje em dia, em termos semânticos. A semiótica tropeça na impossibilidade de passar a verdadeira sensação que tínhamos nessa experiência radiofônica. Outro tema que era muito usado como vinheta, era "House of the King", do Focus. A gíria "altamente", era usada pelo Jacques em profusão. Mais que uma expressão, designava uma gama de sentimentos. "Altamente" era Alta Mente, como teria dito o Walter Franco. O final era extremamente mágico. Quase batendo na hora de acabar, 2:00 h da manhã, com a Lua brilhando e o frio rasgando os ossos, o Jacques colocava o trecho final da magistral obra de Mike Oldfield : "Tubullar Bells"... Quem conhece bem esse disco, sabe que se trata de uma obra conceitual, que ocupa o LP inteiro e no seu trecho final, num looping hipnotizante, o Oldfield vai anunciando a entrada de cada instrumento (literalmente, como um locutor), fazendo a mesma frase (belíssima !!), um verdadeiro mantra. Tal como o Bolero de Ravel, a música te hipnotiza e vai te levando num transe e a cada instrumento, num crescente, vai te envolvendo. Espertamente, o Jacques usava essa trilha como encerramento, quase um ritual xamânico. Improvisando palavras de extrema positividade, deixava o ouvinte em estado de percepção alterado, alfa. O programa durou até 1976 na Rádio América e depois migrou para a Rádio Excelsior, mas a despeito de ser "A Máquina do Som" e identificado com o público jovem, desde os anos sessenta, na Excelsior o élan foi se diluindo, infelizmente. A minha experiência pessoal com o Kaleidoscópio também foi de extrema importância na minha formação como Rocker e certamente foi um dos fatores que influenciaram-me na minha decisão de me tornar músico e aspirar uma carreira artística. Foi num dia de maio de 1975 que um freak amigo da escola me abordou e disse que descobrira um programa de rádio que só tocava altos sons e era apresentado por um Hippie com mil papos incríveis. Não acreditei em princípio e piorou quando me disse que era numa estação AM careta, que geralmente dedicava o seu espaço à música popularesca e programação religiosa. Mas era verdade... No dia seguinte, falei para o colega freak que tinha ouvido e estava boquiaberto com a descoberta. Dali em diante, passei apuros para acompanhar as entediantes aulas matinais da 7ª série. Entre 1975 e 1976, estudei sonado todos os dias e era duro prestar atenção nas aulas de Educação Moral e Cívica, após ter passado a madrugada ouvindo Jimi Hendrix... Em tempos de internet e You Tube, isso soa como algo extremamente ingênuo, mas a verdade era : Em 1975, não tínhamos acesso à nada, tanto pela falta de tecnologia, quanto pela questão da ditadura coibindo, cerceando, censurando tudo e a todos. Portanto, ter uma revista como a "Rock, a História e a Glória", sendo vendida em bancas de jornais e ouvir o Kaleidoscópio nas madrugadas, tinha um valor extraordinário para nós, Rockers, Freaks & Hippies tupiniquins... Passaram-se muitos anos e o Jacques sumiu. Mas quem viveu a época, lembrava-se com extremo carinho e nas rodinhas, sempre alguém contava alguma vivência pessoal sobre o Kaleidoscópio e o questionamento : Por anda o Jacques ? Assim que surgiu a Revista Poeira Zine, encantei-me pelo seu poder de resgate, pesquisa e sobretudo pela paixão com que o seu editor , Bento Araújo, escrevia suas matérias. Identificava no seu estilo jornalístico, a mesma redação que lia na velha "Rock, a História e a Glória". Fiquei amigo do Bento e um entusiasta de sua revista. E claro, informalmente lhe dei sugestões de pauta. Numa dessas, falei sobre o Kaleidoscópio. Para a minha surpresa, recebo num dia de 2005, o telefonema do Bento, convidando-me para entrevistar o Jacques em pessoa ! Num trabalho de investigação minuscioso, ele o encontrara vivendo em Pernambuco. E foi assim que nos encontramos num restaurante próximo à Av. Paulista, aqui em São Paulo e mediante a liberdade que o Bento outorgou-me, munido de meu questionário básico. A matéria foi publicada na edição n°10 (Thin Lizzy na capa), para minha satisfação e orgulho. No mesmo dia, saí desse almoço e fui ao Teatro do Sesc Pompéia prestigiar o Lingua de Trapo que lançava o Box Set com toda a sua discografia reunida. No camarim, disse ao Laert Sarrumor que havia entrevistado o Jacques e ele me autorizara a lhe ceder o seu n° de celular. Fã incondicional do Kaleidoscópio, o Laert vibrou e daí materializou-se uma entrevista do Jacques no programa Rádio Matraca, produzido e apresentado pelo próprio Laert, na Rádio USP FM. Em abril de 2006, tive o prazer de participar dessa entrevista histórica, acompanhado de Bento Araújo, da fotógrafa Grace Lagôa e o Jacques, que estava sendo ciceroneado pelo Zé Brasil da banda Apokalypsis, outro que trabalhou fortemente por esse resgate. Ao final, o Laert Sarrumor e sua co-apresentadora Alcione Sana, deram o microfone ao Jacques, que comandou uma micro edição do Kaleidoscópio, com direito à Massavilha, House of the King e Tubullar Bells fazendo o encerramento. Quando encerrou-se, o Zé Brasil me olhou e com olhos marejados me disse que estava passando um filme na sua cabeça, com 1975 revivido. Caramba...eu e Laert também estávamos na mesma vibe ! Esse Jacques não havia perdido o jeito... Foi uma noite...altamente !
Texto publicado inicialmente no Blog Limonada Hippie, em 2012. A charge é de autoria de José Nogueira e foi feita em alusão à uma matéria escrita pelo Barata Cichetto, sobre o Kaleidoscópio, no Site "A Barata".

http://tvuol.uol.com.br/assistir.htm?video=the-who-para-dr-house-veja-a-reflexao-de-jaques-sobretudo-0402983972D48983A6



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