sexta-feira, 24 de maio de 2013

Kid Vinil

KID VINIL

Um dos grandes ícones do rock nacional
 
O COMEÇO
Em 1978, Antonio Carlos (Kid), Trinkão e Ted Gaz, futuros membros do Magazine, trabalhavam na gravadora Continental. Nesse mesmo ano, Antonio Carlos fez sua primeira viagem à Inglaterra desembarcando em uma Londres fervilhando de bandas, no auge do punk rock, iniciado por grupos como Sex Pistols, Clash, Buzzcocks, Sham 69, entre outros.A energia primal dos shows de punk rock era o oposto do marasmo e estagnação que predominavam no cenário musical brasileiro, exemplificados pelo rock progressivo e super grupos como Led Zeppelin e Queen. Na sua volta ao Brasil, entusiasmado pelo que viu na movimentada cena britânica, resolveu montar sua própria banda, no esquema "DIY, do it yourself", ou seja, "faça voce mesmo", lema do punk rock inglês, que conclamava a todos que voce poderia montar uma banda mesmo se não soubesse música - algo inimaginável antes, com as virtuosísticas bandas de rock do começo dos anos 70. Nesse esquema, Kid chegou a fazer parte como guitarrista de uma banda chamada AI-5: durou muito pouco, mas tempos depois o AI-5 se tornou uma instituição dos primórdios do punk nacional. Kid conheceu Trinkão, capista da Continental e amigo de Lu Stopa, na fila do cartão de ponto. Lá no bairro do Bixiga, Kid nos vocais, Trinkão na bateria e Lu Stopa no baixo, e mais o guitarrista e roadie da banda Filé, logo substituído pelo saudoso Minho K(Celso Pucci), começaram a ensaiar tocando músicas de grupos punks, covers dos Rolling Stones, Raul Seixas e músicas de Minho K. Com essa formação gravaram sua primeira demo, ao que parece perdida para sempre, pois nenhum dos membros possui uma cópia. Este grupo, ainda sem nome, animava uma festa com o pessoal da Gravadora Continental, quando o radialista Alf Soares (da rádio Excelsior) sugeriu-lhes o nome de Verminose -"um nome perfeito para um grupo feio com um som mais feio ainda" - não gostaram muito, mas o nome ficou e, assim, surgiu o Verminose , berço do futuro Magazine. O clima musical do Brasil em 79 era um misto de muito MPB, com um final da era do rock progressivo, pontilhado com as complexidades de um Arrigo Barnabé. O Verminose, com uma mistura de punk, rockabilly e Stones, destoava de tudo isso e chocava o público.
SURGE KID VINIL, O RADIALISTA
A primeira vez que o personagem Kid Vinil apareceu para o mundo foi através da rádio. Kid chegou à radio Excelsior atraves do seu chefe na Continental, Vitor Martins, que por sua vez o indicou a Alf Soares,outro locutor que apresentava um programa de rock n'roll anos 50, nesta mesma rádio. Na época, a então precocemente inteligente Excelsior procurava uma alternativa para sua programação, e sugeriram a Kid experimentar fazer um piloto sobre punk e new wave. Foi então que o nome artistico "Kid Vinil" foi bolado junto com Pena Schmidt, também da Continental, produtor musical, técnico de som e conoisseur de música, baseado em Kid Jensen, DJ da rádio BBC e Cosmo Vinyl, DJ e manager do The Clash. Um nome perfeito para um jovem roqueiro que tinha chegado até às lágrimas de emoção, ao assistir o energético show punk rock do The Clash, ao vivo,em Leeds. O piloto foi aprovado e colocado no ar como o primeiro programa de Kid na rádio - chamou-se "Kid Vinil"; ia ao ar nas segundas-feiras, das 22hs às 23hs - e durante quase dois anos foi um programa que mantinha um crescente público, ávido de novidades da intensa cena musical européia. Kid abriu espaço também para bandas do cenário musical underground, emergentes, divulgando demos de bandas como o Ira! e o Restos de Nada. Nessa época, o punk rock brasileiro tinha se tornado um veículo irado, talvez até mais nervoso e radical que o inglês, com seus slogans de resistência às injustiças sociais e ao capitalismo. Some-se a isso o clima do Brasil ainda em plena ditadura militar. Kid acabou se tornando, talvez até involuntariamente, o porta-voz da geração punk. O programa "Kid Vinil" foi sucedido pelo "Rock Sandwich", também na Excelsior, mas desta vez dividido com Leopoldo Rey. Em 1983, com o estouro do Magazine, Kid deu uma parada em rádios, mas no ano seguinte, veio o "New Beat", programa que comandou na rádio Antena-1. Era um inesquecível programa de new wave anos 80, marcado pela diversidade de estilos e fusões musicais( característica da época), onde era comum se ouvir no mesmo programa, desde bandas góticas e new bossa até jazz-funk, punk hardcore e pop. Em 1986, Kid entrou para a 89FM, onde ficou durante vários anos e comandou vários programas.
O SURGIMENTO DO MAGAZINE
No Verminose, o guitarrista Minho K foi substituido por Ted Gaz, ou melhor, Fábio Gasparini, ex-Mona (que teve um compacto lançado em 1972), ex-Scaladácida (que tinha o novato Richie) e ex-Sunday (famoso grupo de bailes, com pelo menos alguns compactos e um LP gravado). Tinha, também, em alguns shows, o guitarrista Jean Trad substituindo Fábio ou se juntando ao grupo formando um quinteto. Na época, a midia queria de todo jeito descobrir o que existia por trás do movimento punk, mas os punks tinham como lema não falar com a imprensa, uma atitude tipicamente burguesa. Foi então que Kid deu uma lendária entrevista à revista Veja falando sobre o assunto, sobre a cena punk local, e como consequência foi tachado de traidor do movimento.A resposta dos punks foi imediata: invadiram um show que o Verminose fazia no Lira Paulistana, famosa casa de shows em Pinheiros, e quebraram tudo - chegaram a ameaçar de morte os integrantes da banda. Clemente, d"Os Inocentes" estava lá e se lembra bem desse dia, já que perseguiu Kid com uma garrafa quebrada. Felizmente, nada de mais grave aconteceu, mas Ted Gaz decide que é hora de se livrarem de vez do rótulo de grupo punk e coloca como condição para sua permanência no grupo, uma mudança radical na banda - mudança de nome e de som, de punk para a new wave. Assim, surge o grupo new wave Magazine com Kid, Ted Gaz, Lu Stopa e Trinkão. Segue-se uma trajetória de muitos hits e shows. Após três anos de muito sucesso, shows non-stop, aparições em TV e rádio, o Magazine sucumbe ao stress e Kid anuncia sua saída do grupo em 1986. O restante do grupo ainda tenta continuar com um novo vocalista, Pedrinho, e uma nova gravadora, a Continental: mas sem Kid Vinil, gravaram apenas um single de 12 polegadas chamado "Pegue Seu Nariz"/"Nellie, o Elefante" e desistiram. Kid, por sua vez, formou com André Christovam um projeto de blues, rockabilly e rock 'n'roll chamado "Kid Vinil e os Heróis do Brasil". André já costumava substituir Ted Gaz nos shows do Magazine quando este não se encontrava bem de saúde. Com um contrato pela gravadora 3M, o Heróis lançou o disco '"Kid Vinil e os Heróis do Brasil", em 1987. O Heróis consistia em André na guitarra, Kuki na bateria, Raska ou Newton no baixo e Ari Holland nos teclados. O disco teve participações ilustres, como a de Rita Lee nos vocais e Roberto de Carvalho na produção. Após cerca de um ano, a saga dos Heróis do Brasil já estava no final. Nos shows, André foi substituido pelo guitarrista Nivaldo (ex-Muzak), Kuki foi substituído por Abel e Raska por Felippe. Nascia, então, o embrião para o disco solo de Kid, tambem conhecido como "O Toque do Vinil". Este disco solo de Kid Vinil saiu pelo selo RGE e era composto por músicas não gravadas de Tico Terpins e Zé Rodrix, composições do grupo Coke Luxe, de Eddy Teddy, pioneiro do rockabily redivivo brasileiro, além de composições inéditas.
PROGRAMA NA TV
Paralelo à sua carreira musical, Kid construiu também a de apresentador de TV. Em 1987, Kid recebe um convite da TV Cultura para fazer um programa de auditório - "Boca Livre" - em conjunto com a apresentadora Dadá Cyrino. O projeto inicial do programa era trazer bandas de escolas e mais tarde, até 1989, com novo formato, passou a trazer bandas novas que surgiam na cena musical. Na rede Bandeirantes apresentou o "Mocidade Independente" e em seguida, até 1993, Kid apresentou o "Som Pop", programa de videoclips da TV Cultura - emissora com preciosíssimo acervo musical que Kid pôde vasculhar. Com certeza ficou na memória de muita gente a visão de muitos grupos como o Ultravox, Clash, Sex Pistols, em uma época pré-MTV. Como VJ da MTV, Kid ficou no comando do programa "Lado B" da MTV entre 1999 e 2001 mostrando clipes exclusivos em primeira mão - de bandas como o Sigur Rós, ainda desconhecidos - além de escavar o enorme potencial de programas exclusivos da MTV americana (como o "120 Minutes") que continha músicas ao vivo de muitas bandas emergentes.
PROGRAMA DE RÁDIO Há 25 anos, Kid começou sua carreira distinta no rádio, sua grande paixão, onde permanece até hoje tocando música boa, mixada com informação, de maneira quase didática. Em 1986, ele estava na rádio 89FM com o programa "Splish Splash", programa alucinado e irreverente, onde kid entrava com tudo no ar: muito rápido, alucinado, com energia do punk rock - "E aí, tamos aqui, bota aí o Dead Kennedys". Era a época dos góticos, da new bossa, do auge da cena indie americana, de grupos como o R.E.M., Dream Syndicate e também grupos como o Plasticland, do paisley underground (movimento de revival da psicodelia). Era época de ouro da Sarah records. Quem viveu a época lembra-se da loja de discos "Bossa Nova" que trazia essas novidades. Depois de vários programas pela 89FM, Kid fez outros para a 97FM , quando esta ainda era uma rádio rock. Algum tempo depois, transferiu-se para a Brasil 2000FM, onde comandou vários programas como o "Digital Session", o "Likidificador", e mais recentemente o "Happy Hour". Na Brasil 2000, as "Dicas do Vinil" eram diárias e Kid também era encarregado da direção e coordenação da rádio.
COMO JORNALISTA
A estréia de Kid como jornalista foi no final dos anos 70, num jornal chamado Canja. Kid se lembra bem: "meu primeiro artigo foi escrevendo uma crítica sobre o "Emotional Rescue" dos Rolling Stones, depois uma review sobre Elvis Costello. Nem tenho mais essas artigos hoje...". Depois, levado pelo jornalista Fernando Naporano, escreveu artigos para a Folha de São Paulo. Provavelmente foi o primeiro a escrever sobre bandas de futuro como o Pixies, completamente desconhecidos nesta época.
COMO EXECUTIVO DE GRAVADORA
Paralela à sua carreira musical, Antonio Carlos sempre teve seu lado executivo, trabalhando em cargos burocráticos - dez anos em editoria musical - viajando muito, negociando contratos e royalties. Entre 1994 e 1996, Kid esteve à frente do departamento internacional da gravadora Eldorado. Um dos principais legados de Kid foi ter conseguido negociar o lançamento da coleção completa de Frank Zappa no Brasil. Até então somente alguns LPs haviam sido lançados aqui. Kid gerenciou tambem o departamento internacional da gravadora Trama, para a felicidade dos amantes da boa música, rock em especial. Foi a primeira vez que chegaram às lojas do Brasil inteiro, dezenas de títulos de gravadoras como a Matador (Cat Power, Pavement, Pizzicato Five, Stephen Malkmus, Cornelius), a Rykodisc (Morphine, Meat Puppets, Galaxie 500), a Jeepster (Belle & Sebastian) e a Sub Pop, alem de outros selos como ROIR e Rough Trade. O resgate da música de Tom Zé de volta para o Brasil foi obra de Kid, produzindo vários de seus discos pela Trama.
 

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